Cheguei em casa, tomei um banho e deixei a comida do Léo no micro-ondas. Fui dormir, não estava mais aguentando as dores no corpo.
Léo chegou em casa por volta de 1h da manhã, o cheiro de álcool era insuportável, estava muito bêbado. Para completar, batera com o carro; mais uma dívida em minhas costas...
Fiz que não vi, somente o escutei xingando e falando que havia batido. Continuei deitada e cobri a minha cabeça; aprendi a ficar calada, porque gritar nessas horas não adianta. Ele deitou na cama com aquele bafo horroroso, estava com a roupa suja de urina, as mãos grudentas, falando palavrões. Segurou minhas mãos com toda a força e me violentou.
– Socorro! Pare com isso! Estou grávida!
Eu não podia ir à delegacia. Como iria falar que meu marido me violentou? Ele pode me ter a hora que quiser; afinal, somos casados. É que eu não queria nada com ele. Mas, com toda a fúria que o dominava naquele momento, me agrediu. Eu consegui fugir e pulei a janela. Oito meses de gestação, uma barriga enorme, o corpo cansado e pés inchados... Estava com roupa de dormir, mas saí correndo pela rua e cheguei até a casa de meus pais.
Mais uma vez a vergonha da minha mãe. Como eu poderia olhar para o rosto dela? Ela havia me avisado. Meu pai disse para ir até a delegacia, mas eu não quis.
No dia seguinte, Léo não se lembrava de nada. Me pediu perdão. Eu aceitei. Nem sei por que a gente aceita tanto perdão assim. A gente, quando casa com alguém e não dá certo, dá a impressão de que a mente fica cauterizada, não conseguimos mais tomar nenhuma decisão; ficamos petrificadas, sem reação, sem esperança de vida.
16ª de um total de 33 crônicas.
Continua na próxima edição.
A história é fictícia e baseada em fatos do cotidiano.
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