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Empregados dométicos terão mesmo direitos que outros trabalhadores

Xô, informalidade

Proposta já aprovada na Câmara dos Deputados prevê que empregados domésticos tenham os mesmos direitos que outros trabalhadores

Números da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicam que o Brasil possui 7,2 milhões de empregados domésticos. Desses, 6,7 milhões são mulheres e pouco mais de 20% de toda a classe têm carteira assinada, ainda sem os mesmos direitos de outros setores como determina a Constituição.

Para rever essa situação, está em discussão no Congresso Nacional a implantação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 478/10, já aprovada pela Câmara dos Deputados e aguardando votação no Senado. O objetivo é igualar os direitos de empregados domésticos aos de qualquer outro trabalhador brasileiro, de acordo com o artigo 7º da Constituição.

“Tenho certeza que vamos aprovar. Acredito que até o fim do primeiro semestre teremos uma boa notícia”, diz a presidente do Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos da Grande São Paulo, Eliana Gomes Menezes.

Ainda segundo a OIT, o Brasil tem o maior número de profissionais da categoria em todo o mundo. Uma delas é Maria Aparecida Lopes, de 36 anos, quase uma exceção entre outras Marias que não contam com registro na carteira de trabalho. Cida, como é chamada, atuou por muitos anos como diarista na capital paulista. Realizava trabalhos pontuais em diferentes residências sem registro. “Trabalhava em seis casas, de segunda a sábado, sendo uma por dia da semana”, conta, acrescentando que a remuneração de R$ 2,2 mil por mês era boa, mas ela não tinha segurança nenhuma. “Às vezes, chegava às 7h30 para trabalhar e só saía às 17h30.”

Recentemente, Cida recebeu uma proposta de um dos seis patrões para trocar a vida de diarista pela de doméstica com carteira profissional devidamente assinada. Ao aceitar, ela deixou a instabilidade para ter mais segurança e direitos. Aceitou também ter uma remuneração menor “Vou ganhar R$ 1,2 mil mensais, mas vou trabalhar com horário certo, terei meus finais de semana livres, meus direitos e, nos feriados, ao invés de trabalhar para cobrir alguém, terei folga.”



Apesar de fazer parte de uma minoria que trabalha na formalidade entre os empregados domésticos, perante a lei trabalhista em vigor, Cida não é contemplada com direitos como o recolhimento obrigatório do seu Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), hora extra adicional ou, por exemplo, o salário família, comuns para outros trabalhadores. Para o advogado especializado na área trabalhista, Wagner Bemfica, a PEC 478/10 chega para solucionar um impasse histórico da classe. “Está na Constituição que os direitos trabalhistas devem ser aplicados a qualquer profissional, mas com exceção dos empregados domésticos, que são discriminados pela própria lei.”

Para o presidente do Instituto Doméstica Legal, Mario Avelino, o formato atual da PEC pode representar um aumento no gasto dos empregadores. Segundo ele, isso resultará em demissões das empregadas com registro em carteira. “Realizamos uma pesquisa com 2,7 mil empregadores e perguntamos se eles demitiriam ou não suas empregadas caso a PEC fosse aprovada. Constatamos que 815 mil empregadas podem ser mandadas embora.”

Supondo que um empregador que paga o salário mínimo para sua empregada e cumpre os atuais direitos trabalhistas gaste R$ 832 mensais, com a aprovação da PEC, o custo mensal passaria para R$ 915. “O empregador doméstico não é como uma empresa e está com medo desses custos”, diz.

Não é bem assim, segundo a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, Creuza Maria de Oliveira. “Em 1972, conquistamos os primeiros direitos, depois tivemos alterações na Constituição de 1988 e, em 2006, conquistamos o direito de dedução de valores recolhidos à Previdência Social no Imposto de Renda e as férias de 30 dias. Em todas essas situações, falaram em demissões. É um terrorismo isso.”

Com a experiência de quem cresceu contando com a ajuda de uma empregada doméstica e, depois de casada, precisou também dos serviços de algumas, a publicitária Patrícia Macedo Di Lucente, de 41 anos, aprova a alteraçãoproposta. “A rotina atual da família não exige uma empregada o tempo todo, mas sempre fiz questão de registrar, dando todos os direitos”, diz ela, que mora em Brasília (DF).


Diego Viñas | Arte: Edi Edson
diego.vinas@folhauniversal.com.br

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