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Quebrando limites


Apesar das limitações físicas, cadeirantes demonstram ter disposição de sobra para ajudar o próximo em projetos voluntários




Dificuldade para se mexer, inclusive para andar. A limitação física, consequência para quem tem ou teve algum problema de saúde, soa como um grande problema, gigantesca restrição à vida plena. A experiência de pessoas que não só sobrevivem a isso como desfrutam seus maiores desejos e vontades mostra que é possível sim ir além do roteiro “normal”, da condição do conformismo tacanho e até mesmo ajudar aos outros em trabalhos voluntários.


Patrícia de Souza Santos, de 29 anos, é um ótimo exemplo. Estudante de contabilidade, ela também auxilia as educadoras da Escola Bíblica Infanto-Juvenil (EBI) no trabalho com as crianças e dá aulas de Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) em Itaquera, São Mateus e Brás, bairros da zona leste de São Paulo. O que, até aqui, não parece nada demais, certo? Não fosse o fato de ser cadeirante. Um procedimento errado no parto fez com que Patrícia tivesse o braço direito paralisado e má-formação nas pernas. Cresceu em cadeiras de rodas e nem isso a impediu, ou melhor, a impede de realizar suas tarefas diárias e tampouco o trabalho como voluntária.


Nem sempre foi assim. “Até os 18 anos eu era muito revoltada”, conta. “Sentia-me inferior aos outros por ter nascido desse jeito. Quando cheguei à Universal é que mudei meu jeito de ser. Parei de ser nervosa e passei a enfrentar as dificuldades”. Patrícia consegue se virar para muitas outras coisas, principalmente se locomover sozinha, mas, claro, há coisas mais complicadas, como lavar roupa, cozinhar e ir ao banheiro, “mas Deus me dá forças para vencer todas as dificuldades. Ou já teria me matado, pois era muito infeliz”, garante.


Apesar da força de vontade e da consciência de si mesma, a estudante muitas vezes ainda se depara com um obstáculo duro de vencer: o preconceito. “As pessoas também se tornam barreiras. Na rua muitas me olham com ar de desprezo ou pena. Não gosto disso. Às vezes peço ajuda para atravessar a rua e dizem estar com muita pressa”, reclama. Por isso, ela faz questão de lembrar aos alunos de Libras todo fim de aula: “Não reclame da vida, porque não é fácil estar numa cadeira de rodas. Eu venço tudo, você também pode vencer”.





É o que também tem em mente a assistente social Vânia Martins, de 34 anos. Uma ideia simples que tenta passar às pessoas em seus trabalhos como voluntária em projetos da Universal. “Quanto mais você dá, mais você recebe”, ensina. Por isso, aproveita seu conhecimento na área de Serviço Social no Projeto Raabe do Rio de Janeiro, que ajuda mulheres vítimas de violência doméstica e/ou sexual. “Ainda vamos formatar novos projetos, só estou lá há 2 meses. E ainda quero me dedicar às crianças”, explica a cadeirante, que, como Patrícia, perdeu o movimento das pernas ainda criança, consequência de uma distrofia muscular.


“Mas eu faço tudo o que uma pessoa normal faz, de uma forma um pouco diferente”, vai logo avisando. “Já escalei montanha, só que nas costas do meu padrinho Fernando. O segredo é que não coloco limitação para mim e, por isso, as pessoas não ficam com dó.” Bem-humorada, Vânia brinca até com a profecia dos médicos no diagnóstico da doença. “Diziam que eu viveria até os 15 anos, então, já estou fazendo hora extra, né?” Na adolescência, lembra, passava mais tempo no hospital do que em casa. “É ruim, porque você não consegue se envolver.”


A rotina só mudou mesmo após o coma, aos 23 anos. “Eu achei que tinha morrido, era como se estivesse fora do meu corpo, via minha mãe chorando. Pedi a Deus uma chance e na hora recobrei as forças. Tive alta, fui para casa e hoje não tomo remédio algum, só não ando”, explica. A melhora coincidiu com a entrada na Universal e, pouco depois, o casamento com Cecílio, seu marido há 10 anos. Conheceram-se no mesmo hospital em que a assistente social ficou e onde acabou por fazer estágio. O principal de tudo isso? “Deus”, reconhece.

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