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“Se eu tiver esse poder, ninguém vai me deter no mundo do crime”


Conheça a história do bispo que viveu nas ruas, na criminalidade, esteve à beira da separação e agora "vive" na prisão




Por Cinthia Meibach / Fotos: Arquivo Pessoal - Renato Lelles


O responsável atual pelo trabalho evangelístico nos presídios de todo o Brasil, bispo Afonso da Silva, de 59 anos, sabe o que é viver escravizado pelo mundo da criminalidade. Na adolescência, ele conheceu as drogas, chegou a fazer assaltos e a dormir embaixo da ponte. Mas uma segunda chance foi dada a ele para recomeçar longe desse caminho.



Ao lado da esposa, Roseli da Silva, e da filha, Paola, de 24 anos, ele conta à Folha Universal o que fez para deixar o passado de erros, reconquistando a credibilidade da sociedade e formando uma família harmoniosa. Confira.

Vocês passaram por problemas na adolescência?

Ele: Eu cresci vendo meu pai embriagado. O dinheiro que ele tinha era apenas para gastar com a bebida. Ele batia na minha mãe e espancava meus irmãos. Isso me fez crescer com uma revolta grande dentro de mim e, para ter uma válvula de escape, comecei a usar drogas. Mas não só a usar, passei a vender e a fazer assaltos.

Ela: Cresci vendo todos bebendo dentro de casa: pai, mãe e irmão. Era sempre um querendo matar o outro. Eu não tinha exemplo de casamento feliz. Aos 17 anos, quando minha mãe morreu, entrei em uma grande depressão e médico nenhum conseguia me ajudar.

Por que decidiram buscar ajuda na Universal?

Ele: Aos 28 anos, eu estava no auge do vício. Curitiba é uma cidade muito fria e dormir na rua, embaixo da ponte, era terrível. Eu tinha apenas uma jaqueta jeans, que não sabia se vestia ou enrolava nos meus pés. Com fome, tinha que pedir comida, porque não tinha mais forças físicas para roubar, por causa das drogas. Foi quando decidi voltar a morar com a minha família e fui convidado para participar de uma reunião na Universal.

Ela: Depressiva, resolvi abandonar meu pai, irmãos, a casa e fui morar sozinha, viver a minha vida. Até que um dia, na fila de um banco para pagar uma conta, ouvi um senhor falando que uma Universal tinha sido aberta perto de casa. Foi quando decidi buscar ajuda em Deus.

Como foi o processo de conversão até decidir se tornar pastor?

Ele: Quando vi o pastor tendo autoridade para expulsar demônios, pensei: “Se eu tiver esse poder, ninguém vai poder me deter no mundo do crime”. Mas frequentando a igreja, entendi que a fé não era brincadeira. Decidi me batizar e fui compreendendo que aquela vida de crime não ia me levar a nada. Com nove meses de igreja, eu fui batizado com o Espírito Santo e nasceu dentro de mim a vontade de ser pastor, para ajudar os sofridos.

Como vocês se conheceram?

Ele: Eu já estava como auxiliar de pastor e a vi chegando à igreja. Ela se libertou, se converteu e eu acabei sendo transferido para outro lugar. Nós nos encontramos apenas 11 vezes antes de nos casarmos.

Ela: Casamos pela fé. Ele nunca foi à minha casa, só o encontrava na folga dele, nos intervalos das vigílias. A minha irmã o conheceu no dia do casamento. Mas foi algo de Deus, pois estamos casados há 25 anos.


Vocês tiveram problemas de adaptação no começo do casamento?



Ele: Sim, pois no começo do casamento ela queria as coisas do jeito dela e eu do meu.

Ela: Eu vivia dizendo que ele era muito grosso. Eu era toda delicada e ele tinha vindo do mundo do crime, acostumado com grosserias. Por exemplo, para ele passar, se eu estava atrapalhando, ele não pedia licença, levantava me empurrando. Tivemos um choque cultural muito grande.

O que fizeram para solucionar esse problema?

Ele: Um dia, ela decidiu ir embora de casa. Quando me dei conta da gravidade da situação, fui atrás dela na rodoviária. Depois, procuramos o bispo João Batista, que nos orientou e nos acompanhou. Eu reconheci que tinha que mudar e ela também. Com os dois lutando para cada um fazer o outro feliz não tinha como não dar certo.

Ela: Ele foi mudando aquele jeito grosseiro de ser e eu tive que ser paciente. Também quis mudar. Vivemos quatro anos nessa situação.

E hoje como é a relação de vocês?

Ele: Totalmente diferente. Ela é parte da minha vida. Se eu fico longe, tenho saudade. Não há como um ficar longe do outro, há uma mistura, uma união. Eu não consigo me ver sem ela. É uma vida que se completou. Houve alguns trancos, mas houve um ajuste.

Ela: Ele é outra pessoa, nem se compara ao que era quando nos casamos. Ele é a minha outra metade, um companheiro fiel.

Vocês têm uma filha. Como foi a criação dela?

Ele: A Paola está com 24 anos. Ela, graças a Deus, é uma bênção, nunca nos deu trabalho. Embora, se fosse para ter filho hoje, eu optaria por não ter, pois o mundo está cada vez pior. Eu nunca impus nada a ela ou para que seguisse o mesmo caminho que eu. Nós apenas ensinávamos e mostrávamos as consequências dos maus caminhos. Ela cresceu sacrificando junto com a gente e decidiu fazer a Obra no altar. Foi uma decisão totalmente entre ela e Deus.

Paola (filha): O que mais me motivou a também dar a vida pelos sofridos foi o exemplo que tive dentro de casa, de homem e mulher de Deus. Eu sempre quis isso para a minha vida, não me via fora disso.


Como responsável pelo trabalho evangelístico nos presídios do Brasil, como é estar com pessoas desprezadas pela sociedade?



Ele: É uma parte marcante do meu ministério, pois cada dia é uma experiência nova. Dentro do presídio, eu vejo pessoas sendo batizadas com o Espírito Santo. Vejo também muitas morrendo sem a salvação. Vejo pessoas da alta cúpula do crime chorando igual criança, arrependidas dos erros. Enfim, o respeito que os presidiários têm pela Universal é muito grande, pois eles sabem que não estamos lá para condená-los ou atirar pedra, mas para ajudá-los espiritualmente. Nós sabemos que quem está por trás da pessoa que descarrega uma arma no outro é um espírito maligno. Tanto que certa vez fui recebido por um preso que me disse que, se eu não andasse na linha, ele iria cortar a minha cabeça e colocar na estaca. Tempos depois de ouvir a mensagem de fé, esse mesmo preso se converteu e é até obreiro da igreja.

Qual a mensagem que o senhor deixa para o leitor da Folha Universal?

Ele: Quem está passando por problemas deve entender que, por pior que seja a situação, não é o fim, e não deve ser pior que a nossa, no passado. Se Deus nos ajudou, nos deu forças para sermos felizes no casamento e em todos os aspectos, esse mesmo Deus também vai fazer o mesmo na vida dessa pessoa. Basta crer Nele e se entregar.

Perfil do casal

Hobby

Ele: Eu gosto de pescar. Lugar bem sossegado e sem barulho nenhum

Ela: Assistir a filmes

Ato de romantismo

Ele: Eu gosto de presenteá-la

Ela: Sempre que saio, me lembro dele e compro algo para ele, nem que seja uma bala

Comida predileta

Ele: Peixe grelhado e costela assada

Ela: Macarronada

Programa de TV

Ele: Gosto de assistir programas de esportes radicais

Ela: Filmes sobre histórias reais

Sonho

Ele: Escrever um livro com as experiências do trabalho no presídio

Ela: Falar inglês fluentemente

Características

Ele: Sincero

Ela: Hospitaleira

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