Voltei para minha casa e tive que limpá-la, porque eu mesma tinha quebrado muitas coisas. Havia pedaços de vidro pra todo lado. Meu vaso de cristal, que ganhei da minha avó como presente de casamento, estava no chão, todo quebrado. A foto do nosso casamento, esculpida em vidro, tinha se partido ao meio. E era assim que meu coração estava: partido ao meio.Sentei no chão e ali fiquei por alguns minutos. Tinha que limpar o resto da casa e descansar, porque as contas estavam vencendo e eu tinha que pagar.
Assim continuei: com minha barriga crescendo e trabalhando feito uma condenada. O Léo não mudava, e não muda, a cabeça dele é anos-luz abaixo da minha...
Comprou outro videogame com as economias que eu fizera para adquirir o guarda-roupas do bebê. Outra briga, desta vez apenas verbal.
Completei 6 meses de gestação. Por coincidência, era o dia do meu aniversário. Quis fazer um bolo para mim mesma. A essa altura, eu não tinha amigos, não tinha parentes, não tinha dignidade, tinha apenas meus pais e meu filho na barriga.
Convidei minha mãe e meu pai para cantarem o Parabéns. O Léo estava fora desde o dia anterior, não havia notícias dele. Eu já não me importava onde ele andava ou com quem estava; meu corpo estava muito cansado, eu não aguentava mais sofrer.
A noite veio e meus pais chegaram com um presente para mim. Era um lindo colar de ouro com o pingente de uma menina – eu estava grávida de uma menina. Meus pais sabiam porque, no dia do ultrassom, eles estavam comigo, o Léo estava em algum lugar que nem me interessa saber.
Foi uma noite muito agradável, com meu pai novamente contando piadas. E agora até eu estava rindo; o jeito como conta é que é engraçado, não as piadas. Agora eu entendo a minha mãe...
Sim, agora eu entendo tudo o que minha mãe dizia... Nos mínimos detalhes, eu a entendo. Se tivesse esse pensamento antes de me casar, tudo seria diferente.
15ª de um total de 33 crônicas.
Continua na próxima edição.
A história é fictícia e baseada em fatos do cotidiano.
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